11 de junho de 2009

A obscenidade tornar-se arte


Olá Pessoal,
Com o fim do semestre 2009.1 precisei fazer um ensaio (ou pelo menos algo parecido com um), e gostaria muito de compartilhar com vocês. O mesmo foi trabalho de conclusão de Semestre para a matéria Oficina de Leitura e Escrita ao qual é ministrada pela professora Maria do Céu, no Centro Universitário Jorge Amado.
(POST PUBLICADO EM www.cidy-esminhavida.blogspot.com)

Ensaio:


A obscenidade tornou-se arte nas décadas passadas.


O Rubem Fonseca foi brilhante ao escrever o seu conto “Feliz Ano Novo”, retratou muito bem a violência urbana em que, na década de 60 e 70 permeou a ditadura militar. Sim, a ditadura militar foi à maior responsável pela grande e podre herança deixada às décadas seguintes. Trouxe-nos o que hoje podemos chamar de organizações criminosas.


Há uma relação muito grande entre ambas as obras, mesmo escrito e lançado dezenove (19) anos depois o filme PULP FICTION de forma semelhante nos traz a problemática da violência urbana. O filme foi escrito e dirigido por Quentim Tarantino, este filme foge do enredo linear tanto difundido na época (década de 90), e inova com um enredo não-linear. Deste modo alcançou a fama.


O que posso dizer sobre os personagens? Estes possuem um linguajar carregado, gírias não lhes faltam, palavrões são demasiados pesados e violentos! Ambos (diretor e escritor) utilizam inteligentemente o humor para suavizar as significações negativas e pesadas dos palavrões proferidos e as situações de violências praticadas pelos seus personagens.


As línguas são diferentes? Sim! Porém o que ambas tratam da mesma temática (a violência) em diferentes épocas e espaços. Os personagens são diferentes, porém possuem uma singularidade muito acentuada. Uma das marcas encontradas nos personagens de ambos (RF e QT) é maneira em que os personagens dialogam entre si, suas conversas são atrapalhadas, suas atitudes, também.


Se ambos não possuíssem essa linguagem carregada de palavras pejorativas. Certamente, perderíamos toda a essência, e toda a lógica.


Um sanitário tornou-se arte, por que não um conto repleto de palavras pejorativas, não poderia ser uma obra de arte? A intencionalidade dos termos pejorativos enriqueceu de detalhes e demarcou muito a classe aos quais os personagens do "Feliz Ano Novo" pertenciam.



Referências:

Tarantino,Quentim PULP FICTION (Filme)

Fonseca, Rubem FELIZ ANO NOVO (Conto)

9 de junho de 2009

Rubem Fonseca

Por Cidilan Silva
Li uns contos escritos pelo Rubem Fonseca e descobri que ele escreve brilhantemente. A partir do meu contato com um dos seus escritos, pesquisei um pouco sobre ele.



Nome: José Rubem Fonseca
Nasceu em: Juiz de Fora/Minas Gerais
Data de nascimento: 11 de maio de 1925
Formado em: Direito





Conto em destaque: "Feliz Ano Novo"


Esse conto foi escrito na década de 60 e 70, em que foi influênciada pela ditadura militar. Chegou a ser considerada uma censura, devido ao grande número de termos pejorativos. O cômico foi o modo que o autor encontrou para suavizar mais o texto. As vezes dá vontade de rir, de coisas tão sérias, principalmente quando o assunto é morte. Os nomes dos personagens são cômicos, os atos atrapalhados também, seu linguajar nem se fala.





Trecho destaque:


"[...]Tô morrendo de fome, disse Pereba.





De manhã a gente enche a barriga com os despachos dos babalaôs, eu disse, só de sacanagem.





Não conte comigo, disse Pereba. Lembra-se do Crispim? Deu um bico numa macumba aqui na Borges de Medeiros, a perna ficou preta, cortaram no Miguel Couto e tá ele aí, fudidão, andando de muleta.





Pereba sempre foi supersticioso. Eu não. Tenho ginásio, sei ler, escrever e fazer raiz quadrada. Chuto a macumba que quiser.





Acendemos uns baseados e ficamos vendo a novela. Merda. Mudamos de canal, prum bang-bang, Outra bosta.





As madames granfas tão todas de roupa nova, vão entrar o ano novo dançando com os braços pro alto, já viu como as branquelas dançam? Levantam os braços pro alto, acho que é pra mostrar o sovaco, elas querem mesmo é[...]"





Quem quiser ler o texto na integra, basta clicar aqui .


OBS: Lembrem-se o texto possui muitos termos pejorativos!

29 de maio de 2009

O poeta, o analista e o tradutor

Postado por André Cerqueira

O poeta, o analista e o tradutor

O que poderia haver de comum entre os três? Onde a essência de cada um deles?
O poeta é tão velho quanto os tempos. O começo de tudo, diz a Sagrada Escritura, é a palavra – “No princípio era o Verbo...” O primeiro tradutor conhecido foi São Jerônimo, tradutor da Bíblia e patrono dos tradutores. Freud, o inventor da psicanálise, valeu-se muitas vezes dos versos dos poetas. Cita freqüentemente, entre outros, Friedrich Schiller, William Yeats, Homero, em sua obra e recomenda que aos poetas se recorra para entender a feminilidade. O tradutor traz a voz do poeta para que o mundo inteiro conheça. O analista descobre o sujeito do inconsciente na sua eterna submissão à palavra e ao desejo, o ser que se faz humano pela cultura porque pode falar com palavras.
Por mais incrível que possa parecer é o instrumento de trabalho, a identificar os três misteres. Todos eles trabalham a mesma matéria-prima, mas cada qual na sua forma específica de trabalhá-la, dando-lhe destinos diversos e formas variadas. É a metáfora o instrumento de trabalho do poeta, do analista e do tradutor. Metáfora que o poeta faz surgir do cotidiano, do real e da singeleza da vida. Pérolas que descobre incrustadas no comum e no trivial. O poeta faz belo o vulgar e desvenda a beleza invisível. Metáfora que o analista interpreta e escande no sonho, na fantasia, no discurso e no sintoma para fazê-los acessíveis ao cliente, tonando-os legíveis e inteligíveis mas sobretudo passíveis de serem abordados.
Do mesmo modo que o poeta e o analista traduzem, cada qual a seu modo, as metáforas, o tradutor as re-cria, re-lê e re-inventa em seu texto, procurando, muitas vezes aturdido e angustiado, recuperar algo da beleza ou da essência iniciais para transmiti-las ao novo leitor. A metáfora para o tradutor está basicamente nas palavras mas sobretudo na materialidade da sua forma, nos aspectos visuais e em seguida nos sonoros e rítmicos. O analista conhece primeiro o significante em seu aspecto sonoro ainda quando dele se valha o seu cliente para reproduzir as imagens pictóricas do sonho. O poeta brinca com a palavra, ao mesmo tempo, na sonoridade, no ritmo e na imagem. A condensação para ele é indissolúvel. Mas essa condensação, o analista tem que des-fazer sem des-truir, separando os elementos até reduzi-la ao mais simples, ao significante primeiro. E essa mesma condensação o tradutor escande exaustivamente para criar na língua de chegada, a expressão mais próxima do belo, do fiel e a mais pura de que for capaz sem repetir apenas, mas re-criando o novo, sem des-pedir-se inteiramente nem des-prezar totalmente o texto da língua de partida. O poeta canta as emoções, traduz-lhes o brilho, o calor, o colorido. As palavras não bastam em si mesmas para o tradutor. Em suas escolhas ele busca o tom, a luminosidade e vibração que permite ao leitor uma leitura enriquecida e lacunar do seu texto, suscitando novas leituras e emoções. O analista perfunde o discurso que escuta do seu cliente, com um saber que vai permitir a esse cliente, a leitura das suas próprias emoções.
Todos eles divisam a abstração do concreto, aguçam os sentidos e permitem ver além do simples olhar. O tradutor traduz o mundo para o homem, o poeta traduz o homem para o mundo e o analista permite ao homem traduzir-se a si mesmo. O poeta reflete o mundo, o tradutor reflete os vários mundos e os interliga, o analista permite ao seu cliente refletir-se para refletir o mundo de si mesmo. O poeta materializa, humaniza ou coisifica a palavra, o tradutor, vítima das trapaças e armadilhas da palavra, luta para vencê-las e passá-las adiante em novas palavras. O analista a utiliza nos seus engodos e tropeços para permitir ao sujeito encontrar a verdade.
O poeta permite ao leitor brincar com as palavras, sílabas ou frases para desfrutar do texto a seu bel-prazer. O tradutor utiliza o máximo que pode da polissemia do seu texto para, resgatando o essencial do primeiro, recriar o seu. O analista condensa numa interpretação a polissemia do discurso analítico. Para os três o texto é sempre inesperado.
Têm estes três um modo especial de escuta, por ouvirem nas entrelinhas; a escuta do psicanalista vai pontuando, marcando e recortando o texto do cliente. A escuta do tradutor vai pontuando, marcando e reescrevendo o texto primeiro, como um palimpsesto. A escuta do poeta é a escuta do mistério, do belo e do prenúncio. O psicanalista escuta o não-dito. O poeta vê o não-visto e o tradutor lê o não-escrito.
Voz própria não tem o analista, como não a têm o tradutor ou o poeta. Cada um deles escuta; o analista, o seu cliente, o tradutor o texto de um outro e o poeta a escritura da própria vida. E cada um deles fala em nome de quem ouve ou permite que possam outras vozes ecoar.
O poeta constrói com o leitor um espaço mágico onde as palavras se tornam animadas. O tradutor constrói com o leitor as pontes de conexão entre dois mundos diferentes fazendo-os às vezes parecer quase iguais nas diferenças. O analista constrói com o cliente o espaço do inconsciente, atemporal e desconexo, capaz das maiores contradições.
Para os três o texto soa como algo inacabado e transitório, algo de um saber inacabado, incompleto, que os faz cientes da sua falta e incompletude, capazes de promoverem todos três, a eterna possibilidade de criação.
Referências:
Acesso em 15-01-2009 (às 22:30:35 hs)

27 de maio de 2009

Exposição do “humano” no romance Madame Bovary

Postado por Tiago Murillo Corrêa dos Santos




Madame Bovary é uma obra que ocupa lugar de destaque entre os romances. Escrito por Gustave Flaubert (1821-1880), oriundo de Rouen, na França, o livro aborda de modo surpreendentemente franco o tema adultério.


Além dos preconceitos que giraram por séculos em torno do próprio gênero da obra, tido por indecente e inapropriado para jovens, o livro de Gustave Flaubert rendeu-lhe um processo perante a Sexta Corte Correcional do Tribunal do Sena, no qual foi acusado de promover o adultério e a luxúria.


Embora Flaubert tenha sido absolvido pelos juízes, por haver demonstrado que seu papel de autor não significava compartilhamento com os pontos de vista da personagem adúltera da obra, os críticos da época não deixaram de censurá-lo. Após sua absolvição judicial, a obra foi então reabilitada.


O romance conta a estória de Charles Bovary, um jovem trapalhão e hilário que torna-se um médico desastrado. Após vivenciar um péssimo primeiro casamento, originado de interesses financeiros, do qual sai viúvo, Charles desposa Emma, uma jovem utopicamente romântica, cujos ideais emocionais são construídos a partir de romances românticos que conheceu durante sua adolescência no convento.


Buscando aventurar-se com Charles e tentando escapar da vida subserviente ao lado do pai, que não a valorizava, Emma casa-se e imediatamente depara-se com a frustração sentimental.


Após participar de um baile no castelo de um marquês amigo de Charles e seu, Emma desperta suas utopias românticas que a levarão ao encontro de aventuras extremamente perigosas e intrigantes.


Visando despertar ainda mais o desejo pela leitura desta fantástica obra aos caros leitores deste blog, segue abaixo uma análise dos principais personagens do romance: Charles e Emma Bovary.



Madame Bouvary, Flaubert, Gustave – Eds. Publifolha e Ediouro


Análise das personagens Charles e Emma



Charles Bouvary

Segundo a teoria de Forster, Charles Bovary enquandra-se na classe de personagem plana, ou segundo Johnson, personagem de costumes. Ele é descrito por meio de traços distintivos, que de modo objetivo, estereotipam sua pessoa.

Do começo ao fim do romance a personagem de Charles não surpreende o leitor, e é descrito como uma pessoa passiva, moderada, opaca, insensível e inábil. Vejamos exemplos.

Infância

Cap.I

“Reparamos que estudava diligentemente, procurando todas as palavras no dicionário e encontrando muita dificuldade, não teve de baixar à classe inferior, pois embora soubesse passavelmente as lições, faltavam-lhe elegância e vivacidade.”

“Mas o menino, de natureza pacífica, não correspondia aos esforços paternos.”

“Seria agora impossível a qualquer de nós lembrar-se dele. Era um menino de temperamento moderado, que brincava na hora de recreio, dedicava-se aos livros na hora de estudo, prestava atenção nas horas de aula, dormia bem no dormitório, comia bem no refeitório.”



Escolha de sua primeira esposa, Mme Héloïse Dubuc

“Mas não bastava ter criado o filho, feito dele um médico e descoberto Tostes para o exercício da profissão; faltava uma esposa. E foi ainda a mãe que a encontrou...”

Cap. II



Afastamento temporário de Bertaux, e conseqüentemente de Emma, após censuras de sua mãe e súplicas da esposa

Por indolência, Charles deixou de ir a Bertaux. Héloïse fizera-o jurar que não voltaria (...) Ele obedeceu...”



Passividade ante o descobrimento da mentira de Héloïse quanto às suas posses

“Héloïse, em prantos, lançando-se aos braços do marido, suplicou-lhe que a defendesse dos sogros. Charles fez menção de defendê-la; Seus pais se zangaram e partiram.”.

Cap. III




Passividade quanto ao seu sentimento por Emma

“Achando que afinal de contas não arriscava nada, Charles prometeu a si mesmo que faria o pedido quando a ocasião se apresentasse; mas, cada vez que se oferecia uma oportunidade, o medo de não encontrar as palavras convenientes selava-lhe os lábios.”

Cap. IV



Opacidade durante a festa de seu segundo casamento

“Charles, por não ser de temperamento comunicativo, não brilhara na festa. Respondera mediocremente aos trocadilhos, piadas, palavras de duplo sentido, felicitações e cumprimentos que todos lhe dirigiam.”

Cap. VII





Sua postura vazia, enquanto marido


“A conversa de Charles era sem graça como uma calçada e nela desfilavam as idéias de todo, em roupagens comuns, sem suscitar emoções, risos ou sonhos. Ele dizia que jamais sentira curiosidade, quando morava em Rouen, de ir ver nos teatros os atores de Paris. Não sabia nadar, nem lutar, nem atirar de pistola; e um dia não foi capaz de explicar um termo de equitação que ela encontrara num romance.
Mas um homem não devia saber tudo, ser hábil em múltiplas atividades, iniciar as mulheres nas energias da paixão, no refinamento da vida e em todos os mistérios? Aquele, porém, não ensinava nada, não sabia nada, não desejava nada.”



Sua insensibilidade, carência de paixão e permanência na rotina


“(...) Ao luar, no jardim, recitava tudo o que sabia de cor, em versos apaixonados, e cantava para ele adágios suspirantes e melancólicos; mas quando terminava, continuava tão calma quanto antes e Charles não parecia mais amoroso nem mais excitado.”

“Suas expansões haviam-se tornado regulares; beijava-a a horas certas. Era um hábito como outro qualquer, como uma sobremesa prevista após a monotonia do jantar.”





Sua passividade durante a Festa ocorrida no castelo do marquês d’Andervilliers, onde sua mulher começa a permitir-se à busca da paixão

“Alguns jogadores continuavam às mesas, os músicos refrescavam os dedos. Lambendo-lhes as pontas, e Charles cochilava, encostado a um portal.”



Emma Rouault, segunda esposa de Charles Bovary



De acordo com a teoria de Forster, Emma Bovary enquandra-se na classe de personagem esférica, ou segundo Johnson, personagem de natureza. Ele é descrita, além dos traços superficiais, por seu modo íntimo de ser. Ainda, segundo a teoria de Forster, Emma causa surpresa no leitor.

No capítulo II Emma é mais retratada segundo suas características físicas do que pelas emocionais:

“Charles admirou a brancura de suas unhas. Eram brilhantes, finas na ponta(...) A moça era esbelta mas sem muita suavidade nas linhas”

Sua apresentação não possui a relugaridade e estereotipação de que desfrutam a personagem de Charles.



Emma embora casara-se aparentemente apaixonada por Charles, imediatamente após tal fato, descobre-se infeliz:


“Emma tinha desejado casar-se à meia-noite, sob a luz de tochas...”

“Antes de casar-se, ela acreditava amá-lo; mas, como a felicidade que deveria resultar desse amor não aparecera, ela pensava estar enganada, E Emma procurava saber o que significavam exatamente na vida as palavras ‘felicidade’, ‘paixões’ e ‘embriaguez de amor’, que lhe haviam parecido tão belas nos livros.”



As expectativas de amor e paixão existentes no coração de Emma nasceram de seu contato com a literatura (a arte), por meio dos romances românticos que conhecera durante sua estada no convento.

Cap. VI

“A solteirona sabia de cor as canções galantes do século passado, que cantava a meia voz, sem largar a agulha (...) emprestava às meninas maiores, às escondidas algum romance que sempre trazia nos bolsos do avental e que ela própria lia nos intervalos de seu trabalho. Esses livros falavam de amores, de amantes, damas perseguidas que desapareciam em pavilhões solitários, mensageiros que morrem em todas as estações de troca, cavalos em disparada, em todas as páginas (...) lágrimas e beijos (...) Durante seis meses, na idade de quinze anos, Emma se iniciou nessa espécie de literatura.”

Cap. VII

“Enquanto isso, ela desejava o amor segundo as teorias em que acreditava.”



Sua paixão por Charles teve por base a ansiedade de viver o amor:

Cap VI

“Quando Charles fora Bertaux pela primeira vez, ela se considerava uma desiludida, nada mais tendo a aprender nem a sentir.
Mas a ansiedade de um novo estado, ou talvez a irritação causada pela presença daquele homem, fora o suficiente para fazê-la crer que possuía, enfim, aquela paixão maravilhosa que até então se sustentara como um grande pássaro de asas róseas planando no esplendor dos céus poéticos..."




Pouco depois de casar-se, Emma descobre-se sem a “chama” do amor

Cap. V

“Antes de casar-se, ela acreditava amá-lo; mas, como a felicidade que deveria resultar desse amor não aparecera, ela pensava estar enganada. E Emma procurava saber o que significavam exatamente na vida as palavras “felicidade”, “paixões” e “embriaguez de amor”, que lhe haviam parecido tão belas nos livros.”

Neste ponto da trama, a característica esférica da personagem Emma cristaliza-se por meio da surpresa que estabelece na trama.

A partir de sua descoberta, Emma passa a mudar mais ainda sua postura com Charles passando a detestá-lo, o que prova a esfericidade de sua personagem.

Cap. VII

“(...) Acreditava-a feliz e ela o detestava por aquela calma assentada, aquela serenidade pesada, feita da felicidade que ela própria lhe dava.”



Emma passa a banalizar a paixão de Charles

Cap. VII

“Emma persuadiu-se facilmente de que a paixão de Charles não tinha nada de extraordinário. Suas expansões haviam-se tornado regulares; beijava-a a horas certas. Era um hábito como outro qualquer, como uma sobremesa prevista após a monotonia do jantar.”



A idéia de “marido perfeito”, de Emma

Cap VII

“(...) O marido seria belo, espiritual, distinto, atraente, tal como os homens que sem dúvida se tinham casado com suas antigas companheiras do convento.”



Sua personagem muda mais ainda a partir do convite que, juntamente com Charles recebeu, para a Festa na casa do marquês de d’Andervilliers





“Mas lá para o fim de setembro, algo de extraordinário aconteceu em sua vida; foi convidada para ir a Vaubyssard, ao castelo do marquês de d’Andervilliers.”



Emma passa a revelar-se na trama como uma pessoa completamente iludida pelas aparências e facilmente levada por galanteios

Cap. VIII

“Ao entrar, Emma sentiu-se rodeada por uma atmosfera morna, misto de perfume de flores e do cheio de linho de boa qualidade, do odor das carnes e dos cogumelos. As velas dos candelabros refletiam labaredas nos relógios de prata; os cristais facetados, cobertos por uma condensação opaca, luziam palidamente. As flores se alinhavam por todo o comprimento da mesa e, nos pratos lavrados, os guardanapos, colocados em forma de chapéu de bispo...”

“(...) Seu coração era como eles: em contato com a riqueza, algo de indelével se alhe aderira.”

“O coração de Emma bateu mais forte quando seu par, trazendo-a pelas pontas dos dedos, colocou-a em linha, esperando o sinal do arco do violino, para o início da dança.”

Cap. IV

“Assim,estabeleceu-se entre eles [Emma e León] uma espécie de associação, um intercâmbio contínuo de livros e romances...”



Sua relação com Rudolph revela as mesmas características do vazio e da ilusão da aparência

Cap. IX

“Emma, encantou-se com a sua elegância, quando ele apareceu na entrada com seu casaco, de veludo e o culote de malha branca. Ela já estava pronta, à espera.”

“- Oh, obrigado! A senhora não me repele! Como é magnânima! Compreende que sou seu! Deixe que eu a veja, que a contemple! (...) Um desejo supremo fazia tremer seus lábios secos; e lentamente, ternamente, seus dedos se entrelaçaram.”



Sua ilusão leva-a cada vez mais a tentar fugir de sua realidade e a buscar experimentar a dos outros

Cap VIII

“(...) Ela contemplou longamente as janelas do castelo, procurando adivinhar quais seriam os quartos de todos aqueles que tinha observado na véspera. Gostaria de conhecer suas vidas, penetrar nelas, confundir-se com elas”.



CONCLUSÃO
O romance Madame Bovary versa principalmente sobre os dilemas e peripécias do sentimento e comportamento HUMANOS. Ao tocar no âmago de temas como: a busca da felicidade, os conflitos com as expectativas sociais e morais, a obra apresenta-se acessível e provocadora de reflexões. Uma excelente sugestão para leitores ávidos por personagens intrigantes e profundamente HUMANOS.


24 de maio de 2009

A ideia, de Augusto dos Anjos


A IDÉIA

De onde ela vem?!
De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cal de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas da laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No molambo da língua paralítica!

Poema: História de um cão

Eu tinha um cão, chamava-se VeludoMagro, asqueroso, revoltante, imundo
Para dizer numa palavra tudo
Era o mais feio cão que houve no mundo
Recebi-o das mãos de um camarada,
Na hora da partida, o cão gemendo,
Não me queria acompanhar por nada
Enfim mal grado seu o vim trazendo
Trate-o bem. Verás como rafeiro
Te indicarás aos mais sutis perigos
Adeus. E que este amigo verdadeiro.
Te console no mundo ermo de amigos
Veludo à custo habituou-se à vida
Que o destino de novo lhe escolhera
Sua meigosa pálpebra sentida
Chora o antigo dono que perdera
Nas longas noites de luar brilhante
Febril, cunvulso, trêmulo, agitado A sua cauda caminhava errante
A luz da lua, tristemente uivando
Toussenel, Figuier e a lista imensa
Dos modernos zoológicos doutoresDizem que o cão é um animal que pensa
Talvez tenham razão estes senhores
Lembro-me ainda, certo dia
Me vi livre daquele companheiro
Para nada Veludo me servia
Entreguei-o a mulher de um carvoeiro
E respirei. Já posso, dizia eu
Viver neste bom mundo
Sem ter que dar diariamente um osso
A um bicho vil, a um feio cão imundo
Gosto dos animais, porém, prefiro
A essa baixa raça aduladora
Um alazão inglês de sela ou tiro
Ou uma gata branca e cismadora
Mau respirei, porém quando dormia
E a negra noite amortalhava tudo
Senti que a minha porta alguém batia
Fui ver quem é, abri, era Veludo
Saltou-me às mãos, lambeu-me os pés
Farejou toda a casa satisfeito
E, de cansado, foi rolar dormindo
Como uma pedra junto ao meu leito
Praguejei furioso. Era execrível
Suportar esse hospede importuno
Que me seguia como um miserável
Ladrão, ou como um pérfido gatuno
E resolvi-me enfim. Certo é custoso
Dizê-lo em voz alta e confessá-lo:
Para livrar-me desse cão leproso
Havia um meio só, era matá-lo
Zunia a aza fúnebre dos ventos
Só longe o mar na solidão gemendo
Arrebentava em uivos e lamentos
De instante a instante ia o tufão crescendo
Chamei Veludo, ele segui-me excitante
A fremente borraica me arrancava
Dos frios ombros o revolto manto
E a chuva meus cabelos fustigava
Despertei um barqueiro.
Contra o vento. Contra de oriolas coléricas vagamos,
Dava-me forças o torvo pensamento
Peguei no remo e confusos remamos
Veludo à prôa olhava-me choroso
Como um cordeiro no final momento
Embora era fatal, era forçoso
Livrar-me, enfim, desse animal nojento
No longo mar, ergui-o nos braços
E arremessei-o às ondas, de repente,
Ele morreu, gemendo, os membros lassos
Lutando contra a morte era pungente!
Voltei a terra-lhas ao despir dos ombros meus o manto
Notei, ó grande dor! Haver perdido
Uma relíquia que eu prezava tanto
Era uma corrente de ouro que eu tinha muito
Contra o meu coração constantemente
No eterno abismo que devora tudo
E foi Veludo, foi esse cão imundo
A causa do meu mau. Ah! Se Veludo
Duas vidas tivera, duas vidas
Eu arrancaria àquela besta morta
E aquelas vis entranhas corrompidas
Nisto, senti uivos à minha porta
Corri, abri, era Veludo. Arfava
Estendeu-se aos meus pés e docemente
Deixou cair da boca que espumava
A medalha suspensa da corrente
Fôra crível, ó Deus! Ajoelhado
Junto ao cão, estupefado, absorto
Palpei-lhe o corpo, estava enregelado
Sacudi-o, chamei-o, estava morto.

Autor: Luis Guimarães Filho

22 de maio de 2009

Sugestões e Críticas

Olá Visitante,

Gostariamos que deixe aqui os seus comentários sobre o nosso blog.


Se não estiver conseguindo enviar sua crítica e/ou sugestão pedimos que nos envie um email para somosunijorge2009.1@gmail.com

Grato,

Equipe Espaço da literatura.